um blogue à deriva

10/12/09


Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei. Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! Sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a mão na minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra seno de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Prometo saber viajar.


Quando voltar é para subir os degraus da tua escada, um por um. Vou aprende de cor os degraus da nossa escada. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.


Mãe! Passa a mão pela minha cabeça!
Quando passas a mão na minha cabeça é tudo tão verdade!


José de Almada Negreiros

2 comentários:

  1. :)
    Querem deitar nas mãos das mães as suas cabeças no ar.

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  2. É uma Lei da Gravidade Afectiva... talvez que todas as cabeças que voam quase invisíveis como os pardais, precisem, de quando em vez, de um pouso.
    Mas Mãe (figura primal e tutelar) também pode ser (lida como) Mulher, Deus, Humanidade, Amor...sei lá eu!

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