A panela do escape ainda não caíu, vejo-a enquanto subo a rampa de acesso
ao estacionamento. Decido onde almoçar já na estrada. O conta-quilómetros
avariou, mas devo percorrer seis, sete quilómetros até ao primeiro
restaurante de beira de estrada que aparece no horizonte, parcialmente cortado por um grande camião branco. Uma impressão de ter aterrado noutra dimensão, assim que entro: um rapaz devora o monitor do portátil na área exígua do café. O filho dos donos, calculo. À direita, a sala do restaurante: um casal de velhos em pantufas, um homem encardido que almoça sozinho, um grupo ruidoso, só de adultos, na outra extremidade. Sento-me sob a televisão, um grande écran plano de onde sai a voz limpa do narrador de um programa da BBC relatando a primeira experiência de visionamento da migração das baleias do ártico. Uma mulher triste com sotaque
do Leste pergunta-me se já escolhi. Escolho então, na carta onde figura uma
panela de escape partida, um conta-quilómetros avariado, uma estrada sem curvas,
um restaurante lúgubre de beira de estrada parcialmente cortado por um grande camião branco, um rapazinho alienado pela net, um motorista encardido, um grupo ruidoso só de adultos, uma televisão gigante, um programa sobre baleias do ártico, uma mulher triste com sotaque do Leste, entrar nesta dimensão. Peço-lhe com delicadeza meia dose de churrasco, uma salada de alface bem servida e uma água gaseificada com muito limão.- E batáatash?
um blogue à deriva
14/02/10
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
passo por aqui a correr, mas não posso deixar de te dizer que gostei... gostei porque tem verdade, porque tem humor, porque está (muito) bem escrito
ResponderEliminarjm
ResponderEliminarááááái.
Não me amoleças, que estou em guerra e preciso de me concentrar.
p.s. - guarda o gosto para quando vierem jantar umas coisas que andei a engendrar (já testadas :)
modesta contribuição para amolecimento: também gostei muito.
ResponderEliminarnão, prefiro arroshe! (ehehe)
ResponderEliminar