um blogue à deriva

20/02/10

Um dia aparece-te com o grande BMW e põe-te a chave na mão. Olhas a
mão, a chave e o grande BMW. Trata-se de um dia soalheiro,
propício aos passeios. Tu aceitas, os teus dedos tocam, claro, levemente, a
palma da mão que te estende a chave. Entram, fecham as portas. A primeira
sensação não existe, foi-se com a insonorização. O dia soalheiro,
também. Tudo o que há está dentro. À tua direita, uma espera
impertinente muito viril de pernas estendidas, o banco recuado. À esquerda,
uma porta e a estrada. Enfias a chave na ignição e escutas o motor, em ponto
morto. Olhas para o painel, uma extensão de botões e luzes que não conheces.
Testas os manípulos, conhece-los um a um. Chuva, escuridão, alerta, velocidades.
Colocas os pés nos pedais e engrenas a marcha atrás, enquanto observas o
retrovisor. É então que te lembras de onde definitivamente não
queres sair. O grande BMW não rosna. São mais de duzentos
quilómetros de depósito cheio, miando no máximo em terceira. Olhas à
direita e confirmas que adormeceu. Não sendo nada do outro mundo,
também não é todos os dias que tens nas mãos uma máquina que responde à
altura dos teus devaneios e ainda a centenas de quilómetros do
destino. É outra vez então e abres, por fim, a janela.

Lembras-te disto no dia em que escreves a carta de demissão do desemprego das horas do teu dia. E para o que tu sentes, as palavras não chegam.

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