A cama é larga, de madeira, alta, gingona, parece uma jangada. Eu comparo-a a uma jangada, onde vamos nós cinco, cercados de noite, de ventos, de ondas caprichosas, perigos desconhecidos. É uma imagem literária, esta, da cama-jangada; a literatura, a quem muito, sofregamente lê, dá isto: comparações para tudo, referências imprevistas, casos, tipos, situações paralelas que já houve ou foram inventadas, uma outra vida ou realidade como a nossa de todos os dias e que se infiltra no sangue, ferve na memória sem que a gente dê por isso. Não ajuda a viver, é certo, porque nada ajuda a viver; antes a figurar-se. Permite, talvez, uma certa coerência (interior). Não é importante, afinal - mas que será importante, afinal?
fotografia: kiasma
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