um blogue à deriva

27/06/11

Confecção dos afectos #2#

foto ff (Paris 2011)



Nem uma gota de sangue se desperdiçava, apesar das feridas que dentro deflagrava. Torciam-se-lhe os pulmões, levavam os rins atrás numa dança desenfreada, vinha o coração e gritava até silenciar, os intestinos tamborilavam sons da Amazónia, os ossos faziam estalidos e a pele rangia... nada se derramava nem infiltrava. Era estanque, hermética como uma impenetrável cela de aço. Por vezes abria-se uma pequena fresta onde assomava uma goela aberta silenciosa - qual grito de Munch, que logo era violentamente recolhida. Dias, e dias, e dias, e dias... dias, um abalo na válvula mitral, onda após onda, propaga-se p'los a aurículos e ventrículos, irradiando-se deste músculo para as esponjosas cavidades alveolares e contiguamente vibra como um vulcão em urgência de zona de erupção, todos orifícios são convocados e invocados, começam a ceder; e, como um cristal, o fato em poucos suspiros desfaz-se em incontáveis e irrecuperáveis pedaços.

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